Matando a sede com segurançaNotícia publicada no dia: 17/11/2014
Deixar a caixa d’água tampada não é garantia de que o consumidor ficará livre de doenças. Essa medida é fundamental para se combater o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. Entretanto, existem outros riscos que, para evitá-los, é necessário atenção especial com os reservatórios. Isso porque, apesar da água consumida em Juiz de Fora ser de boa qualidade, costuma conduzir, para dentro das caixas, micropartículas de matéria orgânica. Acumuladas com o tempo, elas tornam-se substrato ideal para a proliferação de bactérias que podem causar diarreia, náuseas, vômitos e até doenças mais graves. A questão é ainda mais séria em condomínios verticais, e os síndicos e as administradoras devem ficar atentos tanto com a qualidade da água, como com a execução da limpeza.
Segundo o técnico em Química e proprietário da Isotech, empresa especializada em limpeza de caixa d’água, Ernandes Lopes, apesar de não existir nenhuma legislação municipal específica para nortear o serviço, ele deve ser realizado, no máximo, a cada 12 meses. Essa também é, inclusive, a orientação da Cesama: manutenção uma vez por ano. Nos condomínios verticais, a água distribuída pela companhia, na maioria dos casos, chega a uma cisterna inferior para depois ser bombeada até o reservatório no alto dos edifícios, de onde é feita a distribuição. Ele ressalta que “é muito importante fazer a limpeza das duas cisternas”. Lopes explica que é comum encontrar “surpresas” nos reservatórios. “Já vimos insetos na flor da água em caixas mal tampadas, lixo em cisternas, pedaços de madeiras e tubos, resíduos de pintura, entre outros materiais”.
De acordo com o chefe do Departamento Regional Norte da Cesama, Paulo Valverde, os trabalhos da companhia são norteados pela Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde, que “dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade”. Ele explica que o controle é feito tanto na saída da estação, como em pontos da rede a fim de se conferir como a água está chegando para os consumidores. “Água de Juiz de Fora é de boa qualidade. Tanto a água bruta quanto a tratada. Captamos água de bacias limpas. Mesmo sem tratamento, ela já é melhor que muitas águas distribuídas no Brasil”, expõe Valverde. Entretanto, ele destaca que a responsabilidade do órgão termina assim que a água passa pelo hidrômetro. Por isso, confirma a necessidade de limpeza dos reservatórios para assegurar a qualidade da água a ser consumida.
Profissional aponta cumprimento da NR 33
Outro ponto que deve ser observado diz respeito ao cumprimento da NR 33, que aborda o trabalho em ambientes confinados - espaços não projetados para a ocupação humana contínua. Segundo Ernandes Lopes, algumas cisternas têm áreas maiores que apartamentos de quarto e sala. “Tomamos sempre muito cuidado, já que pode haver a presença de gases, como o metano, que pode até matar. É um gás que pode ser produzido pela decomposição de matéria orgânica, como a madeira, não tem cheiro e não tem gosto. E o síndico é responsabilizado diretamente caso normas regulamentares não forem cumpridas e, em razão disso, ocorrer algum problema”, observa.
O técnico revela ainda quais as principais medidas adotadas para amenizar os riscos provenientes da atividade. “Fazemos a medição de gases e a verificação visual para conferir se há algum tipo de matéria orgânica, como taipás. Entramos nas caixas utilizando cinto de paraquedista atracado em corda de bombeiro, botas de borracha, luvas e máscara. Além disso, fazemos a circulação do ar antes de entrar”, expõe, destacando ainda que o serviço é sempre realizado por, no mínimo, duas pessoas, que se alternam a cada 20 minutos no ambiente confinado.Toda a água da caixa é drenada, sendo realizada a remoção de partículas sólidas e pulverização de cloro em todas as paredes do reservatório.
Análise do orçamento deve ir além do valor
Tanto cuidado tem custo, com impacto direto no preço do serviço. Por isso, Lopes alerta síndicos e administradoras para que, na hora de escolher um orçamento, analisem outros parâmetros além do valor. “É sempre bom perguntar sobre os equipamentos de segurança e a forma como o trabalho vai ser feito. Geralmente, os condomínios exigem três orçamentos. Sempre se opta pelo menor preço, mas esse não deveria ser o único critério. É preciso ter detalhes do serviço a ser prestado”, explica, destacando ainda que a contratação de uma empresa especializada também é garantia de tranquilidade nos meses posteriores à intervenção, já que é emitido um laudo técnico com validade de seis meses. Caso ocorra algum problema neste período, a firma é responsabilizada e tem que fazer nova limpeza.
Outro aspecto que deve ser observado diz respeito à comunicação do serviço aos moradores do condomínio, já que é necessário o corte do fornecimento de água. “Afixamos um aviso em locais como portões de garagem e acesso a elevadores de sete a 15 dias antes da realização da limpeza da caixa d´água de modo que todos tenham ciência de que naquele dia o fornecimento de água vai ser interrompido”, destaca Lopes. Paulo Valderde lembra também de um detalhe importante: “Fechar o hidrômetro com antecedência para evitar o desperdício”. Por fim, Lopes deixa um alerta para síndicos e administradoras. “Como a gente utiliza cinto e cordas de bombeiro para entrar nas caixas, prevenimos também possíveis quedas. Quase nenhum prédio da cidade tem sistema de guarda-corpo ou cabo de vida para atracar o cinto. Esse é um ponto importante e o síndico deve ficar atento a isso”.
Fonte: Revista O Síndico - Edição 05