Sem previsão para o fim do rodízio

10 set | 8 minutos de leitura
Diretor Operacional e Gerente Comercial da Cesama tiram dúvidas sobre o fornecimento de água em Juiz de Fora

Os gastos com água estão entre os custos fixos do condomínio, impactando diretamente no bolso dos condôminos. Nesta edição, a equipe da Revista “O Síndico” entrevista o diretor Técnico-Operacional da Cesama, Márcio Augusto Azevedo, e a gerente comercial da companhia, Maristela Soranço. Uma conversa que abordou aspectos que estão na ponta da língua de muitos síndicos, como reajuste tarifário, rodízio de abastecimento, válvula de ar, aproveitamento de água da chuva, poços artesianos e cálculo tarifário. A dupla entrevista você confere agora.

Inicialmente, gostaria que explicassem como é feito o reajuste tarifário das contas da Cesama.

Maristela Soranço: Hoje em dia, a Cesama é regulada pela Arsae (Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário de Minas Gerais). O reajuste é uma recomposição dos custos que a companhia tem para fornecer água, como o tratamento e os investimentos. A Arsae analisa os gastos e define o percentual a ser aplicado. Esse reajuste é feito uma vez por ano.

Márcio Augusto Azevedo: A Arsae faz uma análise baseada no ano anterior. Encaminhamos todos os nossos balancetes com os dados financeiros para serem examinados. O cálculo do reajuste não é feito olhando apenas o INPC ou IPCA. Leva em consideração critérios relevantes como a inflação sobre a energia elétrica, custo muito significativo no caso da Cesama, e o aumento no valor de produtos químicos, por exemplo. A partir de 2011, a Prefeitura de Juiz de Fora e a Cesama não têm mais autonomia em relação ao reajuste tarifário.

E como ficou o reajuste em 2015?

Márcio Augusto Azevedo: No início de 2015, tivemos o reajuste anual, que ficou em 10,04%.

Estava programada para 2016, uma revisão tarifária pela Arsae pelo fato de a nossa tarifa estar defasada. Em razão da crise hídrica pela qual estamos passando, a Arsae resolveu antecipar parte disso em razão de uma obra. Informamos as intervenções importantes para o município e a Arsae, juntamente com a Cesama, optou pela interligação da Adutora D’Uvas com a ETA (Estação de Tratamento de Água) Castelo Branco. Esse novo aumento, que começou a vigorar em 1º de agosto, é de 10,12% e está dentro desse planejamento. Os recursos vão ser aplicados exclusivamente nessa obra.

Maristela Soranço: É uma antecipação tarifária, uma vez que já tivemos o reajuste anual. É voltada para a melhoria do sistema de abastecimento.

Como a Cesama vê a questão do reaproveitamento das águas das chuvas pelos condomínios? E em relação aos poços artesianos?

Márcio Augusto Azevedo: A Cesama não vê problema algum em relação ao reaproveitamento da água de chuva. A gente até incentiva, desde que sejam tomados os devidos cuidados com relação ao uso. As concessionárias de abastecimento são regulamentadas por uma portaria que estabelece padrões e critérios de potabilidade para consumo humano. Com relação ao uso para fins não nobres, como lavagem de carros, de áreas comuns e rega de jardins, não vemos problema algum. Mas tem que ter o cuidado de não se misturar essa água com a água da concessionária. Em relação aos poços artesianos, qualquer retirada de água dentro de Minas Gerais tem que ter outorga do Instituto Mineiro de Gestão das Águas. Se não for feito esse procedimento, a retirada é considerada ilegal. Vale a mesma coisa em relação à água de chuva no que diz respeito aos padrões de potabilidade. A Cesama já está trabalhando essa economia de consumo por outras fontes, no que diz respeito à coleta de esgoto. Vamos implementar uma maneira de medir esse esgoto, já que ele é tarifado de acordo com o consumo de água. Mas, a partir do momento em que se utiliza uma água de outra fonte de abastecimento, a rede de esgoto é usada para fazer o despejo, o que contribui com o volume a ser tratado.

Maristela Soranço: A Arsae também trata desse assunto. Tem uma resolução específica que fala do uso presumido e uma tabela que estabelece qual a litragem por unidade. Por meio da resolução da Arsae já estamos fazendo essa cobrança nos hotéis. A agência prevê também a instalação de hidrômetro na saída da fonte alternativa de água para se calcular o impacto no esgoto.

Existe muita reclamação em relação ao rodízio de abastecimento no que diz respeito à entrada de ar na tubulação. Isso acontece em Juiz de Fora?

Márcio Augusto Azevedo: Isso pode vir a acontecer em regiões de cota muito elevada. A tendência do ar é sempre buscar o ponto mais alto. Mas a Cesama dispõe, em toda a sua rede de distribuição, de dispositivos próprios para a retirada desse ar. São as ventosas. Esses dispositivos permitem a saída do ar muito mais facilmente do que pelo hidrômetro. Então, essa situação não é comum.

Os condomínios podem instalar válvulas reguladoras de ar na saída do hidrômetro?

Márcio Augusto Azevedo: Já foi feito estudo em relação à presença de ar na água de Juiz de Fora e a conclusão do estudo é que é irrelevante. O usuário pode instalar qualquer dispositivo desde que não seja no ramal predial, antes do hidrômetro ou dentro da caixa do hidrômetro. A partir desse ponto é uma instalação interna e o usuário pode instalar o dispositivo que bem entender.

Existe alguma previsão para o fim do rodízio?

Márcio Augusto Azevedo: Tudo vai depender de como as coisas vão acontecer daqui para frente em relação a um volume maior de chuva. Estamos mantendo o rodízio desde outubro do ano passado ininterruptamente, só paralisando no Natal e no réveillon. Não temos previsão para o fim do rodízio. Essa avaliação deverá ser feita ao longo do próximo verão. Estamos fazendo algumas obras para amenizar essa situação já para o ano que vem, mas não temos como avaliar o fim do rodízio ainda. Se o volume de chuva ficar acima da média pode ser que a gente interrompa. Mas, a princípio, não existe essa possibilidade.

Qual a situação hídrica de Juiz de Fora?

Márcio Augusto Azevedo: Contamos hoje com quatro grandes mananciais: o Sistema João Penido, onde temos a ETA Castelo Branco; o Ribeirão Espírito Santo, no Distrito Industrial; Chapéu D’Uvas; e a Represa de São Pedro. Desses três, o que está em pior situação é a Represa João Penido, que tem 25% do seu volume útil acumulado. A perspectiva nossa é conseguir vencer esse período de estiagem com ela chegando próximo aos 15%. A situação não é confortável e justifica o rodízio. Se for o caso, poderá ser intensificado.

Existe legislação específica para regular o uso da água em lavagem de calçada, de carro ou limpeza de piscina?

Márcio Augusto Azevedo: O município não dispõe de regulamentação a respeito disso. É até difícil a nossa atuação junto às pessoas que fazem o uso da água de forma não consciente. O que temos feito são campanhas de conscientização.  Infelizmente, o município não dispõe de legislação neste sentido.

Que medidas os síndicos de Juiz de Fora podem tomar no sentido da economia de água?

Márcio Augusto Azevedo: A questão de como a Cesama pode atuar junto aos condomínios foi discutida recentemente. Nessa intensificação de rodízio, percebemos uma diferença muito grande na economia registrada nas regiões centrais, que têm número elevado de condomínios verticais. A economia que temos percebido nessas regiões está em torno de 5%, enquanto em outras regiões percebemos até 20%. É o problema da medição não individualizada. A cultura da economia não consegue ser implantada uma vez que as pessoas se baseiam muito mais no comportamento do vizinho do que no dele.

Maristela Soranço: Em relação a como o condomínio pode ajudar, acho que poderiam fazer campanhas internas, por exemplo, para identificar vazamentos. Acontece muito. Uma simples descarga pode causar grande perda de água. Outra ajuda que o síndico pode dar é em razão do fato de muitos hidrômetros serem internos. Se o medidor não conseguir fazer a leitura, vai acabar usando a média. Com isso, se houver algum tipo de vazamento, não vai ser possível identificá-lo.

Os síndicos questionam também a questão da cobrança da tarifa mínima quando o consumo fica abaixo do mínimo. Como é feito esse cálculo?

Maristela Soranço: A política tarifária da Cesama também é feita pela Arsae. Hoje,  trabalhamos com faixas de consumo. Na categoria residencial, temos a unifamiliar e a plurifamiliar. O consumo mínimo é de 5 metros cúbicos por unidade. No comércio, são dez metros cúbicos. Se você tem um consumo de oito metros cúbicos, tem que enquadrar nessas faixas. É cobrado primeiro o valor dos cinco primeiros metros cúbicos e, depois, os outros três metros cúbicos entram na segunda faixa. Tudo isso vem discriminado e tem o objetivo de inibir o consumo.

E como que é feita a cobrança de tarifas residenciais e comerciais?

Maristela Soranço: É mesma política das faixas. Se tem dez residências e dois comércios, dez ficam dentro da tabela residencial e dois dentro da tabela comercial. A metodologia da tabela é a mesma, só os valores que são diferentes.

Denúncias relativas ao mau uso da água podem ser feitas pelo telefone 115 ou via e-mail: desperdicio@cesama.com.br.

FONTE: Revista O Síndico – Edição 10


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