Condomínios de JF adotam ações do conceito ESG

19 out | 12 minutos de leitura
Para Cláudia, a forma de olhar para a destinação dos materiais muda a partir de entender sobre sustentabilidade, economia circular, gerência de resíduos sólidos, logística reversa

MUDANÇAS ENGLOBAM ÁREAS COMO MEIO AMBIENTE, SOCIAL E GOVERNANÇA


Que o planeta passa por mudanças constantes não é novidade. E, cada vez mais, empresas e instituições de diferentes setores, têm buscado acompanhar tais mudanças, a fim de garantir melhorias para esta e para as gerações que ainda virão, tendo em vista as mudanças climáticas e as desigualdades sociais e econômicas que desafiam a vida futura em nosso planeta.

Um exemplo de ações que vão ao encontro da busca por melhorias está relacionado ao conceito ESG, sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança. “ESG representa os pilares do desenvolvimento sustentável. Desmembrando- se as letras, temos: E de meio ambiente (Environmental), S de social e pessoas (Social) e G de governança e compliance (Governance). O conceito fundamental é a capacidade de atuar como agentes de mudança em nossas atividades e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável”, explica o autor o livro “ESG aplicado a condomínios”, Gabriel Karpat.

Com relação ao âmbito condominial, ele completa: “Eu acredito que seja um alerta para que ajamos de forma efetiva no controle dos riscos ambientais e na conscientização das profundas desigualdades sociais. Devemos implementar estratégias que já são adotadas por empresas privadas, organizações não governamentais, entre outros”. Karpat explica que os princípios universais do ESG não são um conceito novo, pois foram lançados pela ONU em 2004, por meio do “Who cares wins” (Ganha quem cuida), que abrange temas como direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e ações anticorrupção.

GANHO PARA TODA COMUNIDADE CONDOMINIAL

Os condomínios não estão de fora dessas práticas sustentáveis, que geram não apenas economia de gastos, mas contribuem para que moradores ganhem em qualidade de vida, colaboradores tenham mais produtividade e o condomínio ganhe em valorização. “Essas estratégias devem ser adaptadas às características específicas de cada condomínio, à vontade de seus gestores e às condições socioeconômicas de seus residentes”, aponta Karpat.

“Eu acredito que seja um alerta para que ajamos de forma efetiva no controle dos riscos ambientais”

Karpat destaca que, nos condomínios, deve-se implementar estratégias que já são adotadas por empresas privadas e ONG’s

Ele lembra que os três pilares estão intrinsecamente interligados na abordagem da governança corporativa. Sua aplicabilidade nos condomínios, segundo ele, depende mais de políticas de gestão ou ações de baixo custo do que de investimentos elevados. “A implementação das políticas de ESG depende mais do conhecimento e da vontade política do que de investimentos substanciais, pois os resultados podem ser avaliados com base na eficácia, mais do que nos gastos. No entanto, em certos casos, é válido considerar ações que envolvam custos, uma vez que os benefícios resultantes podem compensar esses investimentos de diversas maneiras.”

A moradora do Condomínio do Edifício Maria Thereza Magalhães, Maria Cláudia Duarte Magalhães, conta que, em meados de 2019, descobriu que o material reciclável que ela separava era entregue para a coleta comum. “Foi aí que pedi à síndica para que eu pudesse cuidar disso, solicitando a compra de recipientes e providenciando a identificação dos mesmos. Dado início ao trabalho, passei a destinar os materiais a pessoas e/ou projetos. Passei a colocar cartazes no elevador, a fim de incentivar os moradores. Passei também a ajudar algumas amigas a adotarem a mesma postura em seus prédios.”

Formada em Serviço Social, Cláudia atribui à sua formação a preocupação com as famílias que vivem da venda de recicláveis. “Cuidar da natureza e das famílias vem do mesmo sentido de ser uma pessoa idealista. Temos muitas dificuldades, pois o trabalho exige uma mudança de cultura, que é uma coisa lenta.” Em fevereiro deste ano, Cláudia passou a se dedicar inteiramente ao meio ambiente, com a criação, juntamente com uma sobrinha, no Instagram, do perfil @meuambientesustentavel. “Nossa referência com o lixo, que não é lixo, muda. Nossa forma de olhar para a destinação dos materiais muda a partir de entendermos sobre sustentabilidade, economia circular, gerência de resíduos sólidos, logística reversa. Quando a gente começa a se preocupar com o meio ambiente, a nossa relação de consumo modifica, passamos a caminhar na contramão do consumismo desenfreado da sociedade”, reflete.

Sr. Rogério aponta que a coleta de vidro é um sucesso no condomínio, com mais de uma tonelada recolhida

Síndico do Condomínio do Edifício Wady Cury, o engenheiro ambiental Rogério de Campos Teixeira implantou, em 2021, a separação de materiais, tendo recipientes destinados a óleo de cozinha, vidro, isopor, tampinhas, resíduo eletroeletrônico, blister, lixo orgânico e reciclável, separadamente, tudo organizado em um espaço da garagem.

“Já coletamos mais de uma tonelada de vidro. Por outro lado, percebo que o óleo de cozinha não é tão descartado, o que demonstra uma mudança de comportamento, ou seja, que as pessoas estão fazendo menos fritura. Entre os recicláveis, o alumínio é recolhido pelo zelador. Já papel, papelão e garrafas pet são entregues ao senhor Antônio, um catador que trabalha aqui na região há 20 anos.”

“O VIDRO É 100% RECICLADO”

O proprietário da Ciclo, empresa voltada para coleta, tratamento e reciclagem de vidro, Flávio Gouveia explica que atende a cerca de 500 pontos de entrega voluntária de vidros, incluindo bares, restaurantes, clubes, entre outros. Especificamente para condomínios, hoje contam com 115 pontos. Ele explica que todo o vidro coletado vai para a Ciclo, onde é processado conforme as especificações para a reciclagem e, logo após, é encaminhado às indústrias de embalagem, que fazem o processo de derretimento para a geração de novas embalagens. “O vidro é 100% reciclado e esse ciclo se repete infinitamente.”

O condomínio que tiver interesse, pode entrar em contato pelo número (32) 99819-6498, disponibilizar uma bombona ou um latão e efetuar o cadastro. “A Ciclo se encarrega de colar o adesivo de coleta seletiva de vidros no recipiente, onde os condôminos terão acesso às informações para o descarte correto do vidro. Sempre que o recipiente estiver cheio, basta o condomínio nos solicitar a coleta com antecedência de 24 horas.”

CAMPANHAS SOLIDÁRIAS E TRANSPARÊNCIA

À frente da Contato Administração de Condomínios, Simone Furtado, conta que a empresa desenvolve, desde sua criação, há quase 30 anos, campanhas para arrecadação de materiais a serem doados a instituições de Juiz de Fora. “Mais do que apenas oferecer serviços, a empresa se empenha em desempenhar um papel social significativo, colaborando com organizações que têm um impacto real em nossa cidade. Entendemos que o propósito de uma empresa vai além das transações comerciais, envolvendo também a responsabilidade de amparar aqueles que necessitam de apoio.”

Posto temporário de atendimento da Contato Administradora de Condomínios

A administradora realiza ao menos uma campanha solidária a cada ano, envolvendo a equipe, os clientes e os prestadores de serviços. “Nossa mais recente campanha foi no ano passado, quando participamos de uma ação conjunta, idealizada pela AACONDOJF, com o apoio de todas as demais associadas, da Revista O Síndico e de empresas privadas, cujas doações foram em prol da Sociedade Mão Amiga e do Lar dos Idosos Santa Luiza de Marilac.” Para Simone, “o envolvimento dos condôminos em ações voltadas para o bem coletivo é uma abordagem valiosa e cria uma maneira acessível e confiável para canalizar essa vontade de ajudar”.

Outra iniciativa da Contato é o projeto denominado “Plantão Tira-Dúvidas”. “É uma iniciativa projetada para trazer o suporte da Contato diretamente para os condôminos. Através de um posto temporário de atendimento, damos a oportunidade para os moradores esclarecerem dúvidas e obterem orientações. Trata-se da presença direta de parte de nossa equipe nos condomínios, o que traz transparência e humanização aos atendimentos”.

PARTICIPAÇÃO E COLABORAÇÃO

Um exemplo do eixo governança no condomínio administrado por Rogério foi a criação de um grupo de Whatsapp. “Minha ideia teve como objetivo aproximar os condôminos, incluindo moradores e proprietários. Temos um grupo muito participativo e colaborativo que foi fundamental, inclusive, para consolidar a campanha de separação de resíduos.” Antes da criação da ferramenta, ele conta tinha o costume de deixar comunicados debaixo das portas.

Outro exemplo que deu resultado, segundo Rogério, foi a elaboração de cartazes inspirados em modelos usados pela segurança do trabalho. “O objetivo era evitar que o portão ficasse aberto. Então fiz um cartaz com os dizeres ‘estamos há xx dias sem deixar o portão aberto’. Foi um sucesso. Conseguimos conscientizar as pessoas sem a necessidade de colocação de alarmes e câmeras.” O condomínio conta, ainda, com um espaço composto por bancos, árvores e horta. “A horta é cuidada por um dos moradores e todos têm acesso aos produtos. Muito usado por ser um local ao ar livre, essa área foi ainda mais frequentada durante a pandemia, já que as pessoas a utilizavam para fazer caminhadas.”

O síndico Rogério cultiva uma boa relação com os vizinhos, como no caso de Dona Jenny, moradora do edifício Wady Cury

“TROUXE UM BOLINHO PARA VOCÊ”

Moradora do Edifício Wady Cury há um ano e quatro meses, dona Maria Jeny Mota de Barros Lima é exemplo da boa relação entre os vizinhos do local. “Certo dia, fui surpreendido com dona Jeny trazendo um bolo para mim. Aquela atitude me fez tão bem porque me lembrei do passado, da cordialidade da minha mãe com os vizinhos. Como sempre gostei de cozinhar, passei a retribuir.”

Dona Jeny conta que sempre morou em casa e sempre fez questão de manter contato com os vizinhos. “Fui criada em uma avenida com seis casas. Éramos uma verdadeira família. Fui acostumada assim, por isso, considero esse contato, essa aproximação muito importantes.”

OTIMISMO

Para Karpat, embora a visão de um cenário ideal possa parecer distante, é crucial priorizar a conscientização como ponto de partida para moldar um futuro onde, no mínimo, haja um entendimento geral da importância da adoção gradual dos princípios ESG em todas as atividades e espaços que abrangem a comunidade condominial.

“O fato de haver um desejo de mudança e um esforço para ampliar a compreensão do ESG na comunidade é um motivo para otimismo. À medida em que mais pessoas se conscientizam e se comprometem, podemos esperar que as ações adotadas nos condomínios tenham um impacto positivo não apenas internamente, mas também na comunidade circundante, contribuindo, assim, para uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável.”

Recipientes devidamente identificados para o descarte correto de materiais

Ações ESG aplicadas a condomínios

Eixo ambiental: Monitoramento diário do volume de água fornecido pela concessionária para identificar possíveis picos e vazamentos. Promoção do uso racional de energia elétrica por meio de um programa de manutenção preventiva contínua. A instalação de sensores e temporizadores pode evitar o desperdício de energia.

Os elevadores geralmente consomem a maior parte da energia elétrica. Em alguns edifícios, é possível instalar sistemas de alternância para evitar que vários elevadores sejam acionados ao mesmo tempo por diferentes condôminos.

Criação de um bicicletário. Implementação de coleta seletiva de lixo. Havendo viabilidade, podem ser adotadas ações como individualização da medição de água, instalação de carregadores para carros elétricos e adoção de energia solar para aquecimento de piscinas e torneiras, entre outras possibilidades.

Eixo social: Promoção de uma comunicação eficaz, baseada no diálogo e na inclusão, por meio da criação de canais de comunicação exclusivos para os condôminos.

Realização de eventos presenciais que incentivem a colaboração, focando nos interesses coletivos.

Estabelecimento de políticas de recursos humanos que estejam em conformidade com a legislação trabalhista, garantindo um ambiente de trabalho justo e respeitoso.

Organização de eventos sociais compartilhados e buscar parcerias com entidades da comunidade para fortalecer os laços e a integração.

Considerar a criação de espaços destinados a animais de estimação ou à terceira idade, a fim de promover um ambiente mais inclusivo e adaptado às diversas necessidades dos moradores.

Para lidar com eventuais conflitos, é recomendável estar preparado. Uma opção é a contratação de consultorias especializadas em mediação de conflitos para garantir que as questões sejam tratadas de forma imparcial e construtiva.

Eixo governança: É fundamental promover a transparência na gestão do síndico, garantindo que todas as ações e decisões sejam comunicadas de maneira clara e acessível aos condôminos. Para isso, é recomendável estabelecer canais de comunicação eficientes, que permitam o acesso a informações relevantes sobre as atividades do condomínio.

É essencial realizar um planejamento abrangente das atividades a curto, médio e longo prazo para proporcionar uma visão clara dos objetivos e metas do condomínio, permitindo uma gestão mais eficiente.

A criação de regras de compliance é crucial. Isso envolve a definição de diretrizes claras e normas internas que assegurem a conformidade com regulamentações, padrões e critérios das compras, minimizando a exposição a situações de risco.

Uma prática recomendada é a adoção de Acordos de Nível de Serviço (SLA – Service Level Agreement) nos contratos de prestação de serviços que estabelece expectativas claras entre o condomínio e os prestadores de serviços, definindo padrões de qualidade, prazos e responsabilidades.

Para manter um ambiente de governança sólido, é essencial ter canais de comunicação abertos com todos os interessados, incluindo condôminos, membros do conselho e prestadores de serviço. Essa abertura para feedback pode fornecer insights valiosos para aprimorar a gestão e garantir que as decisões sejam tomadas considerando uma perspectiva mais ampla.

FONTE: Revista O Síndico – Edição 55


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