O Peso da Responsabilidade: Como o excesso de cobranças afeta a saúde emocional do síndico

ESCRITO POR: Henrique Junior 

Administrador, especialista em Gestão Empresarial e Finanças, com especialização em Neurociência e Desenvolvimento Humano. Coach, mentor e empresário no setor de tecnologia.

Imagine carregar nas costas as expectativas de dezenas — às vezes centenas — de pessoas diferentes. Cada uma com suas urgências, desejos, interpretações e, claro, opiniões. Agora, adicione a isso a responsabilidade de gerir finanças, lidar com conflitos, tomar decisões impopulares e ainda se manter disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.

É assim que muitos síndicos vivem.

A função, que costuma ser assumida por espírito de colaboração ou pela promessa de “organizar a casa”, pode se tornar rapidamente um fardo emocional. E quando a balança entre responsabilidade e reconhecimento pesa demais para um lado só, o impacto na saúde mental é inevitável.

Do ponto de vista da neurociência, o cérebro humano não foi projetado para lidar com estresse crônico. Situações de pressão constante — como as que um síndico enfrenta diariamente — ativam o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, liberando hormônios como o cortisol e a adrenalina. Esses hormônios são úteis em situações pontuais de perigo, mas quando se mantêm elevados por longos períodos, causam desgaste cognitivo, emocional e físico.

O resultado?

Fadiga mental, irritabilidade, insônia, queda de desempenho, dificuldade de concentração e, em casos mais severos, sintomas de ansiedade e depressão.

A rotina do síndico costuma ser marcada por microestressores: o morador que cobra resposta imediata no grupo do WhatsApp, o prestador que não aparece, a conta que vence amanhã, a reclamação sobre barulho, o medo de errar na gestão financeira. São pequenos episódios, mas repetidos constantemente — e sem tempo adequado de recuperação, se acumulam silenciosamente no sistema nervoso.

Outro fator que agrava o quadro é o desequilíbrio entre o que se entrega e o que se recebe. Em muitos condomínios, o síndico é criticado por decisões difíceis, mas raramente é parabenizado por decisões corretas. Isso gera um esvaziamento do sentido da função — algo que na psicologia chamamos de desmotivação por desvalorização.

O cérebro, em especial o sistema límbico, precisa de reforços positivos para manter o engajamento. Quando esses reforços são substituídos por ataques, desconfiança e pressão contínua, o sistema de recompensa é silenciado — e o síndico passa a operar em modo de defesa, sobrevivência ou desistência.

Muitos síndicos relatam dores de cabeça, tensão muscular, palpitações, sensação de sufocamento, ou até “apagões mentais” diante de reuniões mais tensas. Esses sintomas, muitas vezes subestimados, são sinais claros de que o corpo está tentando gritar o que a mente não teve espaço para elaborar: há sobrecarga.

O papel do síndico exige mais do que gestão — exige maturidade emocional, resiliência e equilíbrio. Mas nenhum ser humano, por mais preparado que seja, consegue sustentar isso por tempo indefinido sem apoio e sem autocuidado.

Não é sinal de fraqueza reconhecer os próprios limites. Pelo contrário, é um gesto de inteligência. Síndicos emocionalmente exauridos tendem a cometer mais erros, se comunicar com menos clareza e perpetuar conflitos. Em contrapartida, síndicos que preservam sua saúde mental são mais assertivos, empáticos e estratégicos.

Se você sente que o fardo tem sido pesado demais, talvez seja hora de se perguntar: “Quem está cuidando de mim, enquanto eu cuido de tudo?”

Conversar com um psicólogo, participar de grupos de apoio entre síndicos ou até mesmo compartilhar tarefas com um conselho mais atuante pode fazer uma enorme diferença. Há caminhos possíveis — e nenhum deles exige que você carregue tudo sozinho.

Ser síndico é, sim, uma missão nobre. Mas também é uma função de alto impacto emocional. É hora de parar de romantizar o esforço solitário e começar a valorizar o equilíbrio. Condomínios saudáveis começam com líderes saudáveis — e isso inclui você.

Como evitar acidentes com crianças nos condomínios

Pilastra que desabou e matou criança tinha profundidade 3 vezes menor do que o mínimo exigido

As recentes fatalidades ocorridas em condomínios ligaram um alerta para síndicos e administradores. 

A morte de duas crianças, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, cujas causas e circunstâncias estão sendo investigadas, apontam para falhas na construção, falta de manutenção e negligência estrutural, reforçando a necessidade de um olhar mais atento para a prevenção e inspeções regulares em condomínios.

Os casos que chocaram o Brasil

No Rio de Janeiro, a menina Maria Luísa Oldemburgas, de 7 anos, faleceu após ser atingida por uma pilastra de concreto que sustentava um balanço no playground do condomínio onde morava. Segundo a perícia da Polícia Civil, a pilastra estava fora dos padrões da ABNT, com apenas 3 cm de ancoragem no solo, quando o mínimo exigido era 10 cm. No caso específico da estrutura do condomínio, a profundidade correta deveria ser de 31,25 cm. O laudo técnico apontou que as barras de aço da coluna estavam totalmente fora dos padrões normativos e que o local já havia passado por reformas recentes. A 42ª DP investiga o caso como homicídio culposo.

Já em São Paulo, Geovanna Rodrigues da Silva, de 12 anos, ao brincar de pique-esconde, sofreu uma forte descarga elétrica ao encostar em fios desencapados próximos à casa de máquinas da piscina. O problema já havia sido reportado pelos moradores à administração do condomínio, mas medidas preventivas não foram tomadas.

Os casos revelam a possibilidade de irregularidades em obras e falhas graves na gestão condominial e evidenciam a necessidade urgente de que síndicos adotem medidas rigorosas para evitar tragédias semelhantes.

Responsabilidade do síndico e do condomínio

A legislação condominial estabelece que a segurança das áreas comuns é de responsabilidade da administração do condomínio. O síndico, como representante legal, deve garantir que todas as manutenções necessárias sejam realizadas. No caso do desabamento da pilastra no Rio de Janeiro, a fiscalização do CREA-RJ constatou que a obra de reforma foi realizada sem um engenheiro responsável, caracterizando negligência grave por parte da gestão condominial.

O presidente do CREA-RJ, Miguel Fernández, alertou sobre o risco de obras sem acompanhamento técnico: “Mesmo reformas aparentemente simples podem esconder perigos estruturais. A contratação de um engenheiro habilitado é essencial para garantir a segurança de todos”.

Caso fique comprovado que o acidente ocorreu por negligência, o condomínio pode ser responsabilizado civil e criminalmente, com síndicos e administradores e até mesmo a construtora sujeitos a processos judiciais.

Medidas para aumentar a segurança no condomínio

Para evitar riscos e garantir um ambiente seguro para crianças e moradores, algumas medidas são fundamentais:

  • Realizar inspeções periódicas: Estruturas como pilastras, muros e equipamentos de lazer devem ser avaliados regularmente por profissionais qualificados.
  • Isolar áreas de risco: Casas de máquinas, salas elétricas e demais espaços técnicos devem permanecer trancados e ter acesso restrito.
  • Corrigir problemas identificados com urgência: Pequenos reparos podem prevenir tragédias. Falhas estruturais não podem ser ignoradas.
  • Contratar profissionais habilitados: Obras e manutenções devem ser conduzidas por engenheiros e técnicos qualificados.
  • Sinalizar corretamente: Locais em reforma ou com risco de acidentes devem ter avisos claros e barreiras de proteção.
  • Manter um plano de emergência: Todos os condomínios devem ter um protocolo para acidentes, com contatos de emergência e procedimentos de evacuação.

O papel dos moradores

Além das responsabilidades do síndico, os próprios moradores também têm um papel importante na prevenção de acidentes:

  • Participar das assembleias e apoiar medidas de segurança;
  • Comunicar problemas estruturais à administração;
  • Respeitar sinalizações e áreas isoladas;
  • Garantir a supervisão de crianças em áreas comuns.

Conclusão

Os trágicos acidentes que vitimaram Maria Luísa e Geovana mostram que a segurança condominial deve ser tratada com máxima seriedade. A negligência em manutenções e a falta de fiscalização podem resultar em consequências irreparáveis. A adoção de medidas preventivas, a contratação de profissionais habilitados e a conscientização de construtoras, síndicos e moradores de suas responsabilidades são essenciais para garantir que os condomínios sejam ambientes seguros para todos. Investir em segurança não é apenas uma obrigação legal, mas um compromisso com a vida e o bem-estar de todos os moradores.

Fonte: revista O Síndico Edição 59