Dores e sabores da gestão condominial

29 jan | 8 minutos de leitura

EM CELEBRAÇÃO AO DIA DO SÍNDICO, CONVERSAMOS COM SÍNDICOS DE JUIZ DE FORA, A FIM DE SABER MAIS SOBRE SUAS HISTÓRIAS E SEU DIA A DIA


No dia 30 de novembro, celebramos o Dia do Síndico. Como referência à data, convidamos você, leitor, a refletir sobre o que vem à sua cabeça quando pensa no papel do síndico. Muitos relacionam a função a problemas, conflitos, várias obrigações e preocupações. Mas quem exerce a função é capaz de contar muitas e boas histórias, de sucesso, de transformação e sobre como a sindicatura pode ser gratificante.

Como forma de homenagear todos os síndicos leitores, nossa reportagem conversou com síndicos de Juiz de Fora, orgânicos e profissionais, a fim de saber sobre a rotina de gestão, os desafios, os obstáculos e as vitórias.

Por falar em vitória, a síndica do Condomínio do Edifício Niva Villela, localizado na rua Doutor Gil Horta, Bianca Duque, afirma que “são muitas vitórias maravilhosas! Trabalhamos para que a gestão seja participativa, sendo assim, temos um envolvimento importante de moradores e, como resultado, conseguimos atingir melhorias para que o condomínio mantenha-se sempre moderno e no caminho da personalização que buscamos”.

Dores e sabores da gestão condominial
Para a síndica Bianca, é importante manter-se sempre dinâmica, em busca de novidades para acompanhar as mudanças

Atuando como síndica há cinco anos, Bianca relata sua rotina de gestão. “Diariamente executo as demandas junto à administradora, alinho algumas atividades com os funcionários e faço frequentemente uma verificação das áreas comuns. A cada quinze dias, mantenho uma reunião de alinhamento com o subsíndico.”

Foi pensando em agregar por meio da participação em conselhos que a função chegou até Bianca. “Sempre me coloquei à disposição, nos locais onde morei com minha família, para participar dos conselhos pois considero importante a busca contínua por melhorias. Fui candidata, inicialmente, ao cargo de  subsíndica e, posteriormente, tornei-me síndica de forma natural.”

Para ela, sua formação em Administração e experiência em gestão de equipes e busca por metas contribui para a atividade desempenhada no condomínio. “Muito dessa experiência me ajudou no planejamento, na execução e na condução de situações do dia a dia. Além da bagagem que trago, busco me atualizar por meio de cursos on-line.”

Questionada sobre os desafios em sua gestão, Bianca afirma que “depois da segurança, que é um desafio infinito, meu maior desafio no Niva Villela é atingir a personalização, buscando a todo tempo valorizar a convivência dos moradores para criar momentos de lazer e conforto”.

“Depois da segurança, meu maior desafio no Niva Villela é atingir a personalização, buscando sempre valorizar a convivência dos moradores”

De olho no futuro, ela afirma que “diante do fato de os condomínios terem mudado tanto, assim como nossa forma de viver, especialmente com a tecnologia, minha expectativa, então, é manter-me sempre dinâmica, disponível e em busca de novidades para acompanhar todas as mudanças que continuarão a ocorrer. Mas entendo que intermediar conflitos e compreender as relações humanas de convivência em um condomínio sempre serão grandes desafios”.

DESAFIO: SABER LIDAR COM O SER HUMANO

O síndico profissional Fernando Nery, que faz a gestão de 20 condomínios, relata que a profissão começou a se desenhar quando ele tinha 16, 18 anos. “Cresci ouvindo meu pai e meu avô reclamarem de pagar condomínio de imóveis que possuíam e da bagunça que eram. Eu, que sempre frequentava as reuniões, via que ninguém tinha interesse em se candidatar a síndico. Foi assim que me candidatei, pensando, inclusive, em fazer uma renda extra. Fui eleito, o tempo foi passando, fui tomando gosto pela função e comecei a alcançar bons resultados, o que fazia com que as pessoas me indicassem para outros condomínios.”

Fernando acredita que, no futuro, a profissão de síndico pode se tornar uma graduação

De lá pra cá se passaram quase 13 anos. Tempo suficiente para que Fernando aponte o maior desafio da profissão: “lidar com o ser humano. Nós precisamos passar um feedback, saber absorver uma determinada situação, saber que nada é pessoal, afinal, problemas vão sempre acontecer”. Fernando afirma que, diante de problemas do dia a dia do condomínio, ao resolvê-los, faz também gestão de pessoas, e a gestão de crise. “Se um cano quebra, se a boia para de funcionar, se o elevador dá problema, antes do conserto, fazemos gestão de pessoas. O síndico precisa saber gerir crise. As pessoas estão na correria, querem tudo funcionando normalmente, se não, acabam explodindo, por isso, gestão de crise é tão importante.”

Para ele, a maior vitória enquanto síndico é ver os condomínios funcionando de forma completa. “Muitas vezes, a pessoa me chama desesperada por não saber o que fazer diante de um síndico despreparado ou mal intencionado, ou de um condomínio complicado com relação às contas ou fisicamente. Quando assumimos e conseguimos reverter tais situações, é muito gratificante. É uma vitória a gente ver o condomínio fluindo ‘redondinho’.”

“As pessoas estão na correria, querem tudo funcionando normalmente, se não, acabam explodindo, por isso, gestão de crise é tão importante”

Trabalhando para cerca de vinte condomínios, Fernando conta que tenta conciliar sua rotina com as demandas da semana. “Faço uma agenda de três em três dias, sabendo que normalmente segunda-feira é um dia em que acumulam mais demandas. Vale destacar que a rotina se altera de acordo com a época do ano, de chuvas, de eleições e reeleições, etc.”

Sobre futuro, suas expectativas são as melhores. “Trata-se de um ramo que vem crescendo. Antigamente, o síndico não tinha tantas obrigações, ele geralmente era um senhor aposentado, com boa vontade, que ajudava o condomínio. As pessoas o respeitavam, ele falava que não podia fazer barulho, ninguém fazia barulho. Hoje não é mais assim, o condomínio se profissionalizou. Acredito que, no futuro, exista até um curso superior para síndicos. Além disso, a tecnologia veio nos auxiliar a atender a mais condôminos. Estou animado com esse crescimento do mercado condominial.”

CAPACIDADE E COMPETÊNCIA

Síndica há dez anos no Condomínio do Edifício Chateau Vilamoura, localizado no bairro Alto dos Passos, Bernadete Lourdes de Carvalho Pereira soma muitos anos como gestora condominial. “Tudo começou há 38 anos, trabalhando fora o dia todo, com uma filha de dois anos, quando nos mudamos para o Edifício Florença de San Paolo, em São Mateus. Lá  assumi a função de síndica e fiquei por um bom tempo. Em seguida, nos mudamos para o Condomínio dos Edifícios Ícaro, Dédalo e Talo, também em São Mateus, onde fui síndica por uns doze anos. Não foi uma tarefa fácil devido à minha falta de tempo, mas dei conta do recado. Aqui não foi diferente, na entrega das chaves fui eleita  e estou até hoje . Acredito que pela minha capacidade e competência.”

Bernadete afirma que o auxílio do subsíndico, do conselho e da administradora são fundamentais para o trabalho no condomínio

Do início dos trabalhos no Chateau Vilamoura, ela lembra das dificuldades. “Foi muito trabalhoso. Prédio sem interfone, sem sistema de monitoramento e segurança, sem gás, vários espaços para montar, como academia, salão de festas, brinquedoteca, espaço gourmet. Formamos uma comissão, tive muita ajuda no início e consegui  equipar o prédio. A administradora ajudou bastante e ajuda até hoje. Temos um mesmo subsíndico desde o início e junto com o conselho fiscal sempre alinhamos as questões mais relevantes.”

Da rotina de Bernadete, faz parte ir à portaria todos os dias pela manhã, andar pelo prédio, conversar com a faxineira, fiscalizar a limpeza, ver as demandas imediatas e tomar as providências necessárias. Se preciso, aciona a administradora.

Sobre os desafios, ela aponta. “São vários: manter o condomínio em perfeito funcionamento e sempre limpo, contratar prestadores de serviços etc. Desde o início da minha gestão o bombeiro hidráulico, o eletricista, o pintor para pequenos reparos, o pedreiro e o jardineiro são os mesmos e nos atendem com presteza. Temos contrato mensal com a empresa de sistema de segurança, com a empresa de manutenção dos elevadores e com a que fornece o gás.”

Já os obstáculos, de acordo com Bernadete, são poucos:  “falta de energia elétrica e água, que trazem enormes transtornos; elevador estragado; prestador de serviço que marca e não aparece; portões de garagem que dão muitos defeitos… Mas tudo isto faz parte da administração. Viver é administrar problemas, quem não os tem, não está vivendo.”

30 DE NOVEMBRO

O Dia do Síndico foi criado oficialmente em 1984, pelo então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, com intenção de homenagear aqueles que exercem tal função. Ainda que em algumas cidades se festeje a data no dia 23 de novembro, na maior parte do país, a comemoração ao síndico acontece no dia 30 de novembro.

FONTE: Revista O Síndico – Edição 56


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