IBGE não consegue coletar dados em 25% dos domicílios visitados em JF
29 ago | 4 minutos de leituraEm quase um mês de pesquisa, os recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já visitaram um terço dos domicílios previstos em Juiz de Fora. Destes, 25% não tiveram seus dados coletados, seja por conta de morador ausente ou recusa explícita. As entrevistas para o Censo 2022 tiveram início no dia 1º de agosto e acontecem até o fim de outubro. Até lá, a expectativa é de que 187.190 domicílios sejam visitados.
O percentual de recusa, ou ausência de morador, em Juiz de Fora está muito acima do esperado pelo IBGE. Conforme a coordenadora do órgão na cidade, Ana Cândida de Paula, os recenseadores têm uma margem de até 5% dos domicílios que podem deixar sem entrevista, mas, historicamente, apenas 3% não recebem o servidor. “Estamos ficando com um passivo muito grande. Nós colocamos os recenseadores em campo a medida em que terminam uma área de trabalho. Sabemos que, lá na frente, esse passivo pode atrapalhar a apuração.”
De acordo com ela, as recusas muitas vezes possuem tom de hostilidade. “Há caso, inclusive, no qual o recenseador foi ameaçado com uma faca ao se aproximar do domicílio. Esses casos mais graves são pontuais, mas, de uma forma geral, o servidor tem sido mal recebido pelos moradores da cidade, alguns com xingamentos ou até agressão verbal.” Situações como essa têm desmotivado o trabalho da equipe e resultado em um grande número de desistências. “No início, o IBGE começou com 400 recenseadores nas ruas de Juiz de Fora. Hoje estamos com 300. Repor esse time nos custa tempo e dinheiro. No mínimo, são 15 dias, até completarmos todo o treinamento.”
Ana Cândida afirma que a dificuldade que os servidores têm enfrentado para entrar em contato com o morador coloca em risco todo o resultado do Censo 2022, que tem o objetivo de fornecer dados para construção de políticas públicas mais eficientes. “Esses dados servirão como referência pelos próximos dez anos. Através deles poderemos ver a evolução em questões de saneamento básico, de acesso a bens de consumo, renda e escolaridade, entre outros.”
Ela ainda aponta que, através do Censo 2022, será possível traçar um perfil mais fiel da população de Juiz de Fora e, através dele, saber quais são as principais demandas da cidade. “Vamos saber se precisamos de mais escolas ou reforçar os aparelhos de saúde, por exemplo. Ou entender se a força de trabalho de Juiz de Fora pode atender uma empresa que tenha planos de vir para a cidade.”
Recusa é maior em condomínios
A Tribuna conversou com a recenseadora Marina de Aguiar, que é responsável por coletar dados para o Censo 2022 na região central e na Zona Sul da cidade. Ela conta que a recusa explícita, que é quando a pessoa se nega a receber o recenseador, é maior em regiões do Centro, onde o contato com o morador é feito através do interfone de condomínios. “É uma diferença gritante entre a recepção dos moradores do Dom Bosco e do Bairro São Mateus, por exemplo. Quando não temos o contato cara a cara com a pessoa, não conseguimos transmitir a segurança de que somos de fato do IBGE ou explicar a importância do Censo e tentar, de alguma forma, convencer que o questionário seja respondido.”
A insegurança talvez seja um dos principais motivos para a recusa, seja ela explícita ou velada, verificada quando a pessoa finge não estar em casa para não atender o recenseador. O IBGE, no entanto, dispõe de uma série de mecanismos para garantir a segurança do entrevistado. Marina explica que os entrevistadores devem estar sempre identificados com um crachá contendo o nome completo e a matrícula.
Tendo acesso a essas informações, é possível confirmar se aquela pessoa está, de fato, a serviço do Censo, registrada e apta a fazer a coleta de dados. A orientação é acessar a aba “Respondendo ao IBGE” do site oficial e inserir as informações ou entrar em contato com o IBGE pelo telefone 0800 721 8181.
Marina conta que, felizmente, não sofreu nenhum episódio de violência ao realizar a abordagem, mas tomou conhecimento de situações arriscadas que outros recenseadores passaram, o que aumenta a sensação de insegurança ao ir para a rua. “Eu entendo esse medo que as pessoas têm de receber desconhecidos em suas casas, mas falta um pouco de empatia. A pessoa vai ficar com o recenseador durante, no máximo, dez minutos. O recenseador passa por essa situação dezenas de vezes ao dia. A gente se sente muito mais inseguro do que a pessoa que está sendo entrevistada.”
Busca ativa pelo recenseador
Caso o recenseador vá até o imóvel e não encontre o morador, ele deixa uma folha de recado onde consta um número de telefone. Por ele, é possível agendar a visita para um outro horário no qual o morador possa responder a pesquisa. Ana Cândida de Paula afirma que, em Juiz de Fora, essa busca ativa está muito baixa, “quase nula”, e reforça o pedido para que as pessoas contribuam com o Censo 2022.
FONTE: Tribuna de Minas