Você Síndico, ainda gira os pratos sozinho?
06 maio | 4 minutos de leituraESCRITO POR: Sergio Paulo da Silva
Sócio da Indep Auditores Independentes, perito contábil, auditor contábil CNAI e membro da Comissão de Contabilidade Condominial do CRC/RJ
Na gestão condominial, o síndico é o artista principal, aquele que se equilibra sobre uma corda bamba, tentando manter dezenas de pratos girando ao mesmo tempo.
Esses pratos representam as inúmeras responsabilidades que recaem sobre seus ombros: a manutenção das áreas comuns, a gestão financeira, a mediação de conflitos entre moradores, a segurança do condomínio, e por aí vai. Nos últimos 15 anos, com o boom dos lançamentos imobiliários no Brasil, esses pratos se multiplicaram. Os condomínios modernos não são mais apenas conjuntos de apartamentos com um hall de entrada e uma garagem. São verdadeiros complexos, com piscinas, academias, salões de festa, áreas gourmet, playgrounds, espaços coworking e até mesmo cinemas. E, com toda essa infraestrutura, a responsabilidade do síndico cresceu exponencialmente.
Imagine um condomínio com centenas de unidades, dezenas de torres e uma área comum que mais parece um pequeno bairro. O síndico, muitas vezes voluntário e sem formação específica para a função, se vê diante de um desafio hercúleo. Ele precisa garantir que as contas estejam em dia, que os funcionários sejam treinados, que os elevadores funcionem perfeitamente, que a água da piscina esteja cristalina, que os conflitos entre vizinhos sejam resolvidos e que a segurança esteja impecável. Tudo isso enquanto tenta conciliar sua vida pessoal e profissional. É uma tarefa sobre-humana, que exige não apenas habilidades de gestão, mas também uma saúde mental blindada.
E é aí que mora o perigo. Muitos síndicos, movidos por um senso de dever ou pela ilusão de que podem dar conta de tudo sozinhos, acabam negligenciando seu próprio bem-estar. O estresse se acumula, as noites de sono se tornam mais curtas, a irritabilidade aumenta e, antes que percebam, estão à beira de um esgotamento. E, quando o síndico chega nesse ponto, todo o condomínio sofre. Um prato começa a querer cair, cai, depois outro, e o que era para ser um espetáculo de eficiência vira um caos generalizado.
Aqui, entra um conceito que precisa ser urgentemente assimilado pela cultura condominial: a responsabilidade compartilhada. O síndico não pode e não deve ser um herói solitário. A complexidade dos condomínios modernos exige uma gestão profissionalizada, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. Contratar esses profissionais não é um gasto, mas um investimento. Um investimento na eficiência da gestão, na valorização do patrimônio e, principalmente, na saúde mental do síndico.
Contar com profissionais qualificados, tais como administradores, contadores, advogados, especialistas em manutenção não é sinal de fraqueza, mas de inteligência. Afinal, o verdadeiro talento não está em tentar fazer tudo sozinho, mas em reconhecer a necessidade de dividir o peso.
Assim como no circo, onde a magia se constrói com a colaboração de muitos, a boa gestão condominial exige um time. O síndico que se cerca de especialistas não apenas evita o desastre, mas transforma sua administração em um espetáculo harmônico, onde cada engrenagem gira com fluidez.
Então, da próxima vez que se sentir tentado a girar todos os pratos sozinho, lembre-se do artista circense. A plateia pode aplaudir sua coragem, mas o verdadeiro espetáculo acontece quando há equilíbrio real, e isso só se conquista com ajuda.
Além disso, é fundamental que os próprios condôminos entendam que a boa gestão do condomínio é uma responsabilidade de todos. Reuniões transparentes, participação ativa nas decisões e respeito às normas internas são atitudes que ajudam a aliviar a carga do síndico. Afinal, um condomínio harmonioso não é aquele em que o síndico faz tudo sozinho, mas aquele em que todos colaboram para o bem comum.
E não podemos falar de gestão condominial sem tocar em um ponto crucial: a prevenção. Assim como no circo, onde cada número é cuidadosamente planejado e ensaiado, a administração de um condomínio deve ser pautada por uma gestão proativa. Manutenções preventivas, reservas financeiras bem planejadas e treinamentos constantes para funcionários são medidas que evitam crises e reduzem o estresse do síndico.
Afinal, é muito melhor prevenir o desequilíbrio dos pratos do que tentar consertá-los depois que caíram.
Por fim, é preciso falar sobre a saúde mental do síndico de forma aberta e sem tabus. A função é desafiadora, e não há vergonha em admitir que, às vezes, o peso é grande demais. Buscar apoio psicológico, praticar atividades que promovam o bem-estar e, principalmente, aprender a delegar são passos essenciais para que o síndico não só cumpra seu papel com excelência, mas também preserve sua qualidade de vida.