Recarga dos Carros Elétricos: Desenho de Mercado

17 dez | 5 minutos de leitura

O brasileiro é apaixonado por carros. Mas, por ser uma tecnologia disruptiva, não dá para pensar no mercado dos veículos elétricos com a mesma mentalidade do veículo à combustão. 

Levantamento de vendas globais de carros elétricos entre 2012 e 2021.

Panorama do mercado

As vendas globais estão aumentando ano a ano, mas o Brasil ainda está atrasado em relação aos principais países. No entanto a tendência é que com a queda dos preços e o início da produção nacional, os carros elétricos passem a ganhar casa vez mais destaque nas ruas brasileiras. 

O Mercado para veículos elétricos no Brasil começou com as classes mais altas, as grandes empresas e nas grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, mas a tendência daqui para frente é de uma maior pulverização desses números. 

Vai faltar energia para os carros elétricos ??? 

Temos energia sobrando no Brasil. São 200 GW (giga Watts) de potencial de geração com uma demanda máxima de 102 GW e ainda assim por curtos períodos, quando há ondas de calor na maior parte do país. E nossa matriz elétrica é das mais limpas do mundo, com 85 % da Energia gerada através de fontes renováveis. Com tudo isso, temos uma grande vantagem competitiva em relação à maioria dos países. 

Classificação dos Veículos Elétricos 

Podemos classificar o mercado dos veículos elétricos em 3 grandes grupos: 

  1. Transporte comercial: veículos pesados, como caminhões e ônibus e até mesmo pequenos veículos de carga. 
  2. Transporte pessoal: individual ou familiar, conhecido como carro de passeio. 
  3. Pequenos veículos elétricos: motos e bicicletas elétricas e suas variações. 

Quando nos referirmos aos automóveis individuais e familiares, de passeio, vamos usar o termo carro elétrico. E quando falarmos de uma forma geral, dos três grandes grupos vamos nos referir à veículos elétricos. 

No grupo de pequenos veículos elétricos como motos e bikes não haverá maiores problemas quanto ao carregamento. Eles transitam, em sua maioria, num raio curto e serão recarregados em casa mesmo, com baixa potência, não requerendo grandes esforços ou investimento em infraestrutura. 

Os veículos pesados, destinados ao ramo dos transportes, deverão ter sua rede própria de recarga, normalmente dentro das garagens das empresas, com transformadores dedicados, quilometragem diária bem definida e, portanto, recarga planejada, dentro das próprias empresas e dificilmente recorrerão aos eletropostos comerciais. 

Maiores preocupações, portanto, terão os veículos de uso individual e familiar, os carros elétricos. 

Recarga residencial 

Nas habitações unifamiliares, as casas tradicionais, o proprietário do carro elétrico não encontrará dificuldades para carregar seu veículo a qualquer hora, sem precisar modificar sua rede elétrica, usando recarga lenta, com corrente de 16 amperes e potência de 3,5 kW. No máximo poderá ter alguma restrição no uso simultâneo com o chuveiro elétrico ou se sua rede for monofásica, em 127 Volts. Mesmo para recarga de 32 amperes e 7 kW, pouca adaptação será necessária. 

O drama dos Condomínios 

Já nos Condomínios residenciais há o problema da simultaneidade da recarga, que poderá sobrecarregar a rede elétrica do Condomínio, fazendo o disjuntor geral desligar e deixar todos os moradores sem energia. 

Antes mesmo de começar a instalar carregadores, o Condomínio precisar fazer a Análise Energética da sua rede elétrica. Esse estudo, também chamado de Diagnóstico Energético, deve ser feito por um Engenheiro com formação na área elétrica e especialista em medições elétricas. Todo o cuidado deve ser tomado com a venda casada. Quem vende ou instala carregadores não deve fazer o Estudo Energético, pois há conflito de interesses. 

A Análise Energética definirá quantos carros elétricos poderão ser carregados de forma simultânea em cada faixa de horário, com segurança, sem sobrecarregar a rede elétrica, com ou sem restrição da potência da recarga (tempo de carregamento mais lento). 

Mudança de paradigma

A tendência é que a maioria dos proprietários de carros elétricos deixe o seu veículo carregando durante a noite, mesmo em carga lenta e não tenha problemas em rodar bastante no dia seguinte. Ou carregue apenas o necessário, durante outros horários, sem chegar aos 100% da bateria, apenas para atender sua necessidade diária. Isso a um custo em torno de R$ 0,96 por kWh. Já quando precisar viajar ou tiver alguma urgência, aí sim recorrerá a um eletroposto externo. 

Em Belo Horizonte (MG), por exemplo, uma empresa está instalando eletropostos pagos com potência de 50 kW, suficiente para carregar 100 % da bateria dos modelos de carros elétricos atuais em cerca de 30 minutos e cobrando R$ 2,10 pelo kWh. 

Segundo informações, o investimento da empresa nesses eletropostos de 50 kW é de 600 mil reais por estação de recarga. 

Outros eletropostos com maiores potências já estão em funcionamento pelo Brasil, com tempos de recarga menores e consequentemente tarifas maiores, já que o investimento inicial também será maior e o serviço melhor, ou seja, mais rápido. 

Posto de combustível para carros elétricos.

Um novo desenho de mercado 

Tudo isso já mostra como deve ser o desenho desse novo mercado, em que o proprietário do carro elétrico escolherá entre a economia da recarga doméstica ou o maior custo,  com o menor tempo da recarga. 

Vemos então que o atual modelo de venda de combustíveis, em que o produto (teoricamente) é igual ou muito parecido e o consumidor busca o menor preço dentro do seu raio de deslocamento será substituído por um novo desenho de mercado, em que serão considerados planejamento ou urgência e menores tempos de recarga com maiores tarifas.

 

FONTE: Adriano Pascoal graduou-se em Engenharia Elétrica, com Ênfase em Eletricidade Industrial, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, onde também lecionou na Faculdade de Engenharia entre 2006 e 2012. É Consultor e Palestrante em Gestão Energética desde 2011, com diversos Diagnósticos Energéticos realizados, principalmente em Indústrias, Hospitais e Condomínios e Autor do Livro Gestão da Energia Elétrica em Sistemas de Baixa Tensão.


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